Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
25 de Abril de 2024
    Adicione tópicos

    Veta, Dilma!

    O direito ambiental é um poderoso instrumento de resistência. E de legitimação. A bem da verdade, todos (ou quase todos) os ramos do direito apresentam essa dupla face. A liberdade de imprensa, por exemplo, é indispensável para formação da opinião pública e para saúde da democracia, mas pode servir para induzir erros de avaliação e destruir reputações. A serviço de interesses nem um pouco republicanos.

    A própria institucionalidade do direito serve às duas senhoras. É, por meio do processo legislativo e judiciário, que o direito atua, em tese, cumprindo a exigência do pluralismo. No caso legislativo, todas as vozes são ouvidas e levadas em consideração. No âmbito judicial, o pluralismo se contenta com a ampla defesa e o contraditório, submetidos a uma autoridade imparcial.

    Na prática, faltam ouvidos, bocas e consciência cívica de um lado, enquanto, de outro, o contraditório é contradito por defesas assimétricas e imparcialidades duvidosas. Em boa parte, é assim que as coisas funcionam. Nem tudo está perdido, no entanto, pois há espaços para resistência mesmo num ambiente de pura legitimação do status quo.

    O nosso Código Florestal é um grande exemplo dessa ambiguidade. Nascido no regime militar, ele dormiu, feito Cinderela, em seu leito de letras generosas à realidade insensível, enquanto nossos governantes batiam, orgulhosos, no peito estrelado. Gabavam-se de ter a legislação ambiental mais avançada do mundo.

    Era mera legitimação. A sociedade civil, alguns órgãos públicos ambientais (principalmente seu corpo técnico) e o ministério público, no final dos anos oitenta em diante, abriram o casulo da resistência.

    A reação do status quo se fez, a partir da década seguinte, no sentido de neutralizar a metamorfose. Diversos órgãos ambientais foram sucateados (o IBAMA é um grande e triste emblema disso), leis do processo coletivo foram dificultadas e o ministério público vive sob ameaça de redução dos poderes.

    As mais novas mudanças no Código, para atender a reivindicações dos ruralistas, são mais uma dessas investidas. E não serão as últimas. É preciso resistir. Mas a resistência requer mobilização política e jurídica, como o "Veta, Dilma".

    É, todavia, pouco diante da força de legitimação e do status quo. Se não houver organização e luta, a Cinderela pode ser acordada não pelo beijo de um príncipe, mas pelo barulho das motosserras. E faltarão borboletas para florear os nossos jardins. Invisíveis ou de pedras e gás carbônico.

    • Publicações3784
    • Seguidores329062
    Detalhes da publicação
    • Tipo do documentoNotícia
    • Visualizações68
    De onde vêm as informações do Jusbrasil?
    Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/veta-dilma/3112238

    0 Comentários

    Faça um comentário construtivo para esse documento.

    Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)